"O Mundo é Minha Paróquia" (John Wesley)


POR QUE OS CRISTÃOS NÃO ESTÃO ISENTOS? - BILLY GRAHAM

27/11/2012 00:10

Depois, papai teve febre reumática... Durante os dez últimos anos de sua vida, só não sentiu dor quando dormia. Creio que sua atitude com relação ao sofrimento deu credibilidade ao seu testemunho cristão.1 (ALLAN EMERY)

 

A TENDÊNCIA DOS HOMENS é se perguntar por que a pessoa que ama Deus e tenta viver uma vida cristã exemplar tem que sofrer física, psicologicamente ou de outra forma qualquer durante a sua passagem pela terra.

Desde o princípio o sofrimento dos crentes vem confundindo judeus e cristãos. Jó é o exemplo clássico de um crente sofredor. Houve um motivo extremamente importante para o seu sofrimento. Mas Jó não sabia disso, enquanto passava por sua provação. Jó nem ao menos tinha o Livro de Jó para confortá-lo, como nós temos! Daniel foi posto no covil do leão; Sadraque, Mesaque e Abede-Nego foram amarrados e lançados numa fornalha; José foi aprisionado; Moisés teve que fugir do Egito e viver longe de tudo o que conhecia há quarenta anos.

O motivo para todas essas coisas não era conhecido na época. Tinha que ser visto em retrospecto. Nenhum de nós saberá o motivo total do sofrimento dos fiéis antes de chegarmos ao céu.

Se os crentes que nos antecederam não foram isentos, por que nós o seríamos?

 

Porta-Vozes  de  Deus

 

O apóstolo Pedro escreveu muito sobre os cristãos sofredores. Sabia, assim como a maioria dos primeiros seguidores de Jesus, o que era sofrer por uma fé. A tradição nos conta que ele morreu pendurado de cabeça para baixo numa cruz romana, porque não se achava digno de morrer da mesma forma que seu mestre. Pedro sofreu de muitas outras formas, tanto físicas quanto mentais, durante o seu percurso com o Senhor, mas em todos os seus escritos o valor positivo do sofrimento é enfatizado. Ao desenvolver este assunto, faz eco às palavras do Salvador registradas no Evangelho, e dos outros discípulos.

Como deve ter sofrido Maria, a mais abençoada das mulheres, e mãe de Jesus? Imagine os insultos dos amigos que achavam que ela era imoral. Ou, anos depois, os seus padecimentos durante a humilhação de Jesus, culminando na cruz. Junto ao pé da cruz, viu o Filho morrer de uma das maneiras mais dolorosas e vergonhosas que o homem jamais inventou. Aos olhos do povo ao seu redor, Ele era um criminoso comum. Ouviu as vaias. Viu o soldado enfiar a lança em Seu flanco.

No entanto, ela acreditou em Deus. Não podia esquecer a visita do anjo que lhe dissera: "Salve! altamente favorecida, o Senhor é contigo... Não temas, Maria; pois achaste graça diante de Deus. Conceberás no teu ventre, e darás à luz um filho, a quem chamarás Jesus. Este será grande e será chamado Filho do Altíssimo; o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi, e ele reinará eternamente sobre a casa de Jacó, e o seu reino não terá fim." (Lucas 1:28-33)

Ao testemunhar a tragédia aparente da crucificação, Maria deve ter-se perguntado: "Será que me enganei? Tive uma falsa visão? É verdade que Ele é o Rei que reinará para sempre?"

Sendo humana, ela deve ter questionado o passado à luz do sofrimento incrível do presente por parte de quem tanto amava. Na época, ela era incapaz de perceber inteiramente que esta era a realização da profecia. Para que a raça humana tivesse alguma possibilidade de reconciliação com Deus, o Filho dela tinha que morrer exatamente daquela forma. como haviam previsto os profetas.

 

Os  Cristãos  Sofrem  Porque  São  Humanos

 

Podemos enxergar, aqui e ali, na Santa Escritura, o porquê dos fiéis não estarem isentos do sofrimento. Vemos também alguns motivos bem definidos.

Primeiro, os cristãos sofrem porque são humanos. O fato de sermos cristãos não quer dizer que estejamos isentos de doenças, padecimentos, desastres naturais, tragédias, e, por fim, da morte. Naturalmente, ouvimos falar de cristãos que foram milagrosamente salvos ou curados. Da mesma forma, ouvimos falar de outros que passam pelo fogo dos padecimentos, como, por exemplo, o "espinho na carne" de Paulo. Porém, nem tudo é mistério. Ouvimos o Senhor dizer a Paulo: "Existe um motivo para este espinho na carne. É para não seres exaltado além da conta. Mas verás que Minha graça é suficiente para permitir que tu o suportes."

Alguns anos atrás, realizei um serviço fúnebre em memória daqueles que tinham morrido em furacões que quase destruíram uma cidade texana. Cristãos morreram e foram feridos, do mesmo modo que os não cristãos.

Dessa forma, os cristãos não estão isentos de desastres problemas e doenças. Tais coisas são imanentes à humanidade e estamos envolvidos nelas porque partilhamos da experiência humana, assim como Cristo o fez.

 

Muitas  Vezes  os  Cristãos  Sofrem  Porque  Merecem

 

Segundo, os cristãos não estão isentos do sofrimento quando pecam e desobedecem a Deus. Se um cristão conta uma mentira, perde a paciência ou comete algum tipo de pecado, ele sofrerá o castigo ou "juízo" de Deus (ver I Cor. 11:28-32 e Pedro 4:17-19). Assim como uma criança necessita ser corrigida, os filhos de Deus precisam ser corrigidos. A Santa Escritura diz: "Filho meu, não menosprezes a correção do Senhor, nem te desanimes, quando por ele és repreendido; pois o Senhor castiga ao que ama, e açoita a todo filho que recebe. É para a disciplina que sofreis (Deus vos trata como a filhos); pois qual o filho a quem não corrige seu pai? (...) Toda correção ao presente, na verdade, não parece ser de gozo, mas de tristeza; depois, porém, dá fruto pacífico de justiça aos que por ela têm sido exercitados." (Hebreus 12:5-11)

Se, através do descuido e da indiferença, nós ignoramos as leis do trânsito, merecemos ser presos e punidos como qualquer um. Se não formos amorosos e fiéis na nossa vida cristã, pagaremos por isso com uma consciência culpada ou castigo de Deus.

Um cristão tem responsabilidades tremendas para com a sua família. Ele ou ela tem responsabilidades de amar a cada membro da família. Maridos e mulheres devem amar-se e submeter-se um ao outro. Devemos treinar nossos filhos no caminho que devem seguir. Se negligenciarmos tais responsabilidades, sofreremos as conseqüências - talvez não imediatamente, porém mais tarde.

Conheço um líder cristão. Há anos que trata mal a mulher, o que terminou fazendo com que ela chegasse a um estado de esgotamento físico e mental completo. Agora está enamorado de sua secretária. Quer continuar sendo um líder cristão na comunidade, mas dois proveitos não cabem num saco só. Está travando uma batalha terrível dentro da própria alma. O sorriso deixou-lhe o rosto, a alegria deixou-lhe o coração. A sua situação agora é tão evidente que outros cristãos, conhecendo as circunstâncias, não apenas estão rezando por ele, mas, infelizmente, também estão revelando o seu pecado. O sofrimento dele é quase insuportável – tudo por causa do seu pecado – mas, até agora, ainda não se arrependeu.

 

Não  Existe  Abrigo  Contra  a  Precipitação  Radioativa

 

Terceiro, não existe um "abrigo contra a precipitação radioativa" cristão. Os cristãos não estão isentos do sofrimento porque, se estivessem, os não-cristãos viriam correndo para a porta da igreja como se ela fosse um abrigo contra a precipitação radioativa. Infelizmente, nos últimos anos, vimos pessoas que abraçaram o cristianismo, especialmente nos Estados Unidos, porque parecia ser a única coisa inteligente a fazer.

A popularidade do cristianismo cresceu nos Estados Unidos e em outros países, nos últimos anos. Muitos não-cristãos acham que, por motivos comerciais ou políticos, deviam pertencer à igreja e fazer uma profissão de fé que não está de acordo com a vida que levam. Conseqüentemente, a igreja na América está profundamente infiltrada pelo "mundo", e, dessa forma, está começando a assemelhar-se ao mundo em muitas de suas atividades.

Assim como na época de Cristo, existem hipócritas na igreja – até mesmo no púlpito ou lecionando em escolas e seminários protestantes. Jesus disse: "Ai de vós (...) hipócritas! porque fechais a porta do reino dos céus; pois nem vós entrais, nem deixais entrar os que estão entrando." (Mateus 23:13) Muitos cristãos que professam Cristo não vivem como se O possuíssem.

Todavia, como podemos estar próximos dos acontecimentos que levam aos "últimos dias", o verdadeiro e o falso começarão a se separar. Quando o sofrimento e a perseguição caírem sobre nós, haverá uma diferença. Sem dúvida, quando todos estivermos frente ao trono de julgamento de Cristo, os nossos verdadeiros motivos serão revelados.

 


1 Allan Emery, A Turtle on a Fencepost (Waco, Word Books, 1979). p. 85.


 

 

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