"O Mundo é Minha Paróquia" (John Wesley)


Doutrina sobre Deus - Segundo Alexandre Z. Bacich

23/07/2012 21:58

 

As obras de dogmática ou de Teologia Sistemática geralmente começam com a Doutrina de Deus. Há boas razões para começar com a Doutrina de Deus, se partirmos da admissão de que a Teologia é o conhecimento sistematizado de Deus de quem, por meio de quem, e para quem são todas as coisas. Em vez de supreender-nos de que a dogmática começa a Doutrina de Deus, bem poderíamos esperar que seja completamente um estudo de Deus, em todas as suas ramificações do começo ao fim . Iniciamos o estudo de Teologia com duas pressuposições , a saber: 

(1) Que Deus existe ;

(2) Que Ele se revelou em Sua Palavra Divina.

 

· Prova Bíblica da Existência de Deus.

Para nós a existência de Deus é a grande pressuposição da teologia, não há sentido em falar-se do conhecimento de Deus, se não se admite que Deus existe. Embora a verdade da existência de Deus seja aceita pela fé, esta fé se baseia numa informação confiável. O Cristão aceita a verdade da existência de Deus pelafé. Mas esta fé não é uma fé cega, mas fé baseada em provas, e as provas se acham, primariamente, na Escritura como a Palavra de Deus inspirada ,e , secundariamente, na revelação de Deus na natureza . Nesse sentido a Bíblia não prova a existência de Deus. O que mais se aproxima de uma declaração talvez seja o que lemos em Hebreus 11:6: A Bíblia pressupõe a existência de Deus em sua declaração inicial , .No princípio criou Deus os céus e a Terra.. Vê-se Deus em quase todas as páginas da Escritura Sagrada em que Ele se revela em palavras e atos. Esta revelação de Deus constitui a base da nossa fé na existência de Deus, e a torna uma fé inteiramente razoável . Deve-se , notar , que é somente pela fé que aceitamos a revelação de Deus e que obtemos uma real compreensão do seu conteúdo. Disse Jesus, .Se alguém quiser fazer a vontade dele conhecerá a respeito da doutrina, se ela é de Deus ou se eu falo por mim mesmo. (Jo 7:17). É este conhecimento intensivo, resultante da íntima comunhão com Deus, que Oséias tem em mente quando diz , .Conheçamos, e prossigamos em conhecer ao Senhor., (Oséias 6:3). O incrédulo não tem nenhuma real compreensão da Palavra de Deus. As Palavras de Paulo são muito pertinentes nesta conexão: .Onde está o sábio ?Onde o escriba ? Onde o inquiridor deste século ? Porventura não tornou Deus louca a sabedoria do mundo ? Visto como, na sabedoria de Deus, o mundo não o conheceu por sua própria sabedoria, aprouve a Deus salvar os que crêem , pela loucura da pregação .. ( 1 Co 1:20,21).

I. .Relação do Ser e dos Atributos de Deus.

O Ser de Deus.

É evidente que o Ser de Deus não admite nenhuma definição científica.Uma definição Genético-sintética assim, não se pode dar de Deus, visto que Deus não é um dentre várias espécies de deuses, que pudesse ser classificado sob um gênero único. No máximo, só é possível uma definição analítico-descritiva. Esta simplesmente menciona as características de uma pessoa ou coisa, mas deixa sem explicação o ser essencial. E mesmo uma definição dessas não pode ser completa , mas apenas parcial , porque é impossível dar uma descrição de Deus positiva exaustiva . ( Como oposta a uma negativa). A Bíblia nunca opera com um conceito abstrato de Deus, mas sempre O descreve como o Deus vivente, que entra em várias relações com as suas criaturas, relações que indicam vários atributos diferentes. Sua essência em (Pv 8:14), a natureza de Deus em ( 2 Pe 1:4). Outra passagem repetidamente citada como contendo uma indicação da essência de Deus, e como a que mais se aproxima de uma definição na Bíblia é (Jo 4:2) .Deus é espírito, e importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade..O ser de Deus é caracterizado por profundidade, plenitude, variedade , e uma glória que excede nossa compreensão e a Bíblia apresenta isto como um todo glorioso e harmonioso, sem nenhuma contradição inerente. E esta plenitude de Deus acha expressão nas perfeições de Deus, e não doutra maneira. Da simplicidade de Deus segue-se que Deus e Seus atributos são um. Comumente se diz em Teologia que os atributos de Deus são o próprio Deus, como Ele se revelou a nós. Os escolásticos acentuavam o fato de que Deus é tudo quanto Ele tem. Ele tem vida, luz, sabedoria, amor, justiça , e se pode dizer com base na Escritura que Ele é vida , luz , sabedoria, amor , justiça. Os escolásticos afirmavam ademais, que toda a essência de Deus é idêntica a cada um dos atributos , de modo que o conhecimento de Deus, é Deus, a vontade de Deus, é Deus, e assim por diante alguns deles chegaram mesmo a dizer que cada atributo é idêntico a cada um dos demais atributos, e que não existem distinções lógicas em Deus.

II. Atributos de Deus

1. Atributos Incomunicáveis - Salientam o Ser absoluto de Deus .

Considerando absoluto como aquilo que é livre de todas as condições ( ou Incondicionado ou Auto-existente), de todas as relações ( o Irrelacionado) , de todas as imperfeições ( o Perfeito) , ou livre de todas as diferenças ou distinções fenomenológicas, como matéria e espírito, ser e atributos , sujeito e objeto , aparência e realidade ( O real , a realidade última).

A. A Existência Autônoma de Deus. - É como o Ser auto-existente e independente que Deus pode dar a certeza de que permanecerá eternamente o mesmo, com relação ao seu povo. Encontram-se indicações adicionais disso na afirmação presente em (Jo 5:26) . Na declaração de que ele é independente de todas as coisas e que todas as coisas só existem por meio dele (Sl 94:8s.; Is 40:18 s.; At 7:25 ) e nas afirmações que implicam que Ele é independente em seu pensamento ( Rm 11:33 ,34) em sua vontade ( Dn 4:35 ; Rm 9:19; Ef 1:5 ; Ap 4:11) em seu poder (Sl 115:3 , e em seu conselho (Sl 33:11).

B.A Imutabilidade de Deus . Em virtude deste atributo , Ele é exaltado acima de tudo quanto há , e é imune de todo acréscimo ou diminuição e de todo desenvolvimento ou diminuição e de todo desenvolvimento ou decadência em seu ser e em suas perfeições. A imutabilidade de Deus é claramente ensinada em passagens da Escritura com (Ex 3:14 ; Sl 102:26-28 ; Is 41:4 ;48:12; Ml 3:6 ; Rm 1:23, Hb 1:11,12 ; Tg 1:17).

C.A infinidade de Deus. 1) Sua perfeição absoluta - O poder infinito não é um quantum absoluto, mas, sim, um potencial inexaurível de energia, e a santidade infinita não é um quantum ilimitado de santidade, mas , sim, uma santidade qualitativamente livre de toda limitação ou defeito. A prova bíblica disto achase em ( Jó 11:7 - 10 ; Sl 145 : 3 ; Mt 5:48 ).

2) Sua eternidade:

- A infinidade de Deus em relação ao tempo é denominada eternidade

- Sua eternidade. A forma em que a Bíblia apresenta a eternidade de Deus está nas passagens bíblicas de (Sl 90:2 ; 102,12 ; Ef 3:21).3) Sua imensidade - A infinidade de Deus também pode ser vista com referência ao espaço, sendo, então, denominada imensidade. Em certo sentido, os termos .imensidade.e .onipresença., como são aplicados a Deus, denotam a mesma coisa e, portanto, podem ser considerados sinônimos. A onipresença de Deus é revelada claramente na Escritura ( 1 Rs 8:27 ; Is 66:1 ; At 7:48,49 ; Sl 139:7-10 ; Jr 23:23,24 ; At 17:27,28 ).

A unidade De Deus.

 Unitas Singularitatis - este atributo salienta a unidade e a unicidade de Deus , o fato de que Ele é numericamente um e que, como tal , Ele é único. Provas Bíblicas comprovam com passagens de texto em ( 1 Rs 8:60 ; 1 Co 8:6 ; 1 Tm 2:5 ) . Outras passagens salientam, não a unidade , mas a sua unicidade ( Dt 6:4 , Zc 14:9 , Êx 15:11).

 Unitas Simplicitatis - quando falamos da simplicidade de Deus, empregamos o termo para descrever o estado ou qualidade que consiste em ser simples , a condição de estar livre de divisão em partes e, portanto, de composição. A perfeição agora em foco expressa a unidade interior e qualitativa do ser divino. A escritura não a afirma explicitamente, mas ela está implícita onde a Bíblia fala de Deus como Justiça , verdade , sabedoria, luz, vida , amor, etc. E, assim, indica que cada uma destas propriedades, devido a sua perfeição absoluta, é idêntica ao seu ser.

Atributos Comunicáveis - É nos atributos comunicáveis que Deus se posiciona como Ser moral, consciente, inteligente e livre, como Ser pessoal no mais elevado sentido da palavra.

A Espritualidade De Deus -A Bíblia não nos dá uma definição de Deus. O que mais se aproxima disso é a palavra dita por Jesus à mulher samaritana: .Deus é espírito., ( Jo 4:24) . Trata-se, ao menos, de uma declaração que visa dizer-nos numa única palavra o que Deus é. A idéia de espiritualidade exclui necessariamente a atribuição de qualquer coisa semelhante a corporalidade a Deus e, assim condena as fantasias de alguns dos antigos gnósticos e dos místicos medievais, e de todos os sectários dos nossos dias que atribuem o corpo a Deus. Atribuindo espiritualidade a Deus, podemos afirmar que Ele não tem nenhuma das propriedades pertencentes à matéria , e que os sentidos corporais não O podem discernir. Paulo fala dele como o .Rei eterno, imortal, invisível. ( 1 Tm 1:17), e como .o Rei dos reis e Senhor dos senhores ; o único que possui imortalidade , que habita em luz inacessível , a quem homem algum jamais viu, nem é capaz de ver. A Ele honra e poder eterno. Amén.. (1 Tm 6:15,16).

3. Atributos Intelectuais 

 O conhecimento de Deus - Pode-se definir o conhecimento de Deus como a perfeição de Deus pela qual Ele, de maneira inteiramente única, conhece-se a Si próprio e a todas as coisas possíveis e reais num só ato eterno e simples. A Bíblia atesta abundantemente o conhecimento, como por exemplo, em ( 1 Sm 2:3 ; Jó 12:13 ; Sl 94:9 ; 147:4 ; Is 29:15 ; 40:27,28).

A) Sua Natureza - É conhecimento caracterizado por perfeição absoluta. É inato e imediato, e não resulta de observação ou de um processo de raciocínio. O conhecimento que Deus tem de Si mesmo e de todas as coisas possíveis , um conhecimento que repousa na consciência de Sua Onipotência. É chamado necessário porque não é determinado por uma ação da vontade divina. Também é conhecido como conhecimento de simples inteligência, em vista do fato de que é pura e simplesmente um ato do intelecto divino, sem nenhuma ação concomitante da vontade divina. O livre conhecimento de Deus , é aquele que ele tem de todas as coisas reais, isto é, das coisas que existiram no passado, que existem no presente ou que existirão no futuro. Fundamenta-se no conhecimento infinito que Deus tem do seu propósito eterno, totalmente abrangente e imutável e é chamado livre conhecimento porque é determinado por um ato concomitante da vontade.

B) Sua Extensão - O conhecimento de Deus não é perfeito somente em sua natureza , mas também em sua abrangência . É chamado onisciência, porque é absolutamente compreensivo. Diversas passagens da Escritura ensinam claramente a onisciência de Deus. Ele é perfeito em conhecimento , (Jó 37:16), não olha para a aparência exterior, mas para o coração, ( 1 Sm 16:7 ; 1 Cr 28:9,17 ; Sl 139:1-4; Jr 17:10) , observa os caminhos dos homens, (Dt 2:7 ; Jó 23:10; 24:23; 31:4 ; Sl 1:6; 119 :168), conhece o lugar da sua habitação (Sl 33:13) , e os dias da sua vida (Sl 37:18). A escritura ensina a presciência divina de eventos contingentes ( 1 Sm 23:10-13 ; 2 Rs 13:19 ; Sl 81:14,15; Is 42:9; 48:18; Jr 2:2,3; 38:17-20: Ez 3:6 ; Mt 11:21).

 A Sabedoria de Deus - Pode-se considerar a sabedoria de Deus como um aspecto do Seu conhecimento. O conhecimento é adquirido pelo estudo, mas a sabedoria resulta de uma compreensão intuitiva das coisas. A Escritura refere-se à sabedoria de Deus em muitas passagens, e até a apresenta como personificada em Provérbios 8. Vê-se esta sabedoria particularmente na criação ( Sl 19: 1-7 ; 104 : 1-34), na providência ( Sl 33:10 ,11; Rm 8:28 ) e na redenção (Rm 11:33; 1 Co 2:7 ; Ef 3:10) . 3) A veracidade de Deus - Quando se diz que Deus é a verdade , esta deve ser entendida, em seu sentido amis abrangente. Primeiramente , Ele é a verdade num sentido metafísico, isto é , nele a idéia da Divindade se concretiza perfeitamente; Ele é tudo que como Deus deveria ser e , como tal, distingui-se de todos os deuses, assim chamados, os quais são chamados ídolos, nulidades e mentiras ( Sl 96:5 ; 97:7; 115: 4-8 ; Is 44: 9,10) . Ele é também a verdade num sentido ético e, com tal, revela-se como realmente é, de modo que a sua revelação é absolutamente confiável ( Nm 23:19 ; Rm 3:4 ; Hb 6:18). Finalmente, Ele é também a verdade num sentido lógico e ,em virtude disto, conhece as coisas como realmente são, e constitui de tal modo a mente do homem que este pode conhecer, não apenas a aparência , mas também a realidade das coisas.

A escritura é muito enfática em suas referências a Deus como a verdade ( Êx 34:6 ; Nm 23:19 ; Dt 32:4 ; Sl 25:10; 31:6 ; Is 65:16 ; Jr 10:8 ,10,11 ; Jo 14:6 ; 17:3 ; Tt 1:2 ; Hb 6:18 ; 1 Jo 5:20,21).

4. Atributos Morais 

A Bondade de Deus - (Mc 10:18 ; Lc 18:18,19; Sl 36:9 ; Sl 145:9,15,16; Sl 36:6 ; 104:21 ; Mt 5:45; 6:26; Lc 6:35; At 14:17).

 O Amor de Deus ( Jo 3:16 ; Mt 5:44; 45 ; Jo 16:27 ; Rm 5:8 ; 1 Jo 3:1).c) A graça de Deus - Segundo a Escritura, é manifestada não só por Deus , mas também pelos homens, caso em que denota o favor de um homem a outro ( Gn 33:8 ,10,18 ; 39:4; 47:25 ; Rt 2:2; 1 Sm 1:18; 16:22. Lemos em Ef 1:6,7; 2:7-9 ; Tt 2:11 ; 3:4-7 ; Is 26:10 ; Jr 16:13 ; Rm 3:24; 2 Co 8:9 ; At 14:3; At 18:27; Ef 2:8 ; Rm 3:24 ; 4:16; Tt 3:7 ; Jo 1:16 ; 2 Co 8:9 ; 2 Ts 2:16 ; Ef 2:8 ; e Tt 2:11).

 A Misericórdia de Deus - podese definir a misericórdia divina como a bondade ou amor de Deus demonstrado para com os que se acham na miséria ou na desgraça , independentemente dos seus méritos. ( DT 5:10 ; Sl 57:10; 86:5; 1 Cr 16:34; 2 Cr 7:6 ; Sl 136 ; Ed 3:11; 1 Tm 1:2 ; 2 Tm 1;1 ; Tt 1;4 ; Êx 20:2 ; Dt 7:9 ; Sl 86:5 ; Lc 1:50 ; Sl 145;9 ; Ez 18:23,32; 33:11; Lc 6:35,36).

 A Santidade de Deus - Sua idéia fundamental é a de uma posição ou relação existente entre Deus e uma pessoa ou coisa.(EX 15:11 ; 1 Sm 2:2 ; Is 57:15 ; Os 11:9 ; Jó 34:10 ; At 3:14 ; Jo 17:11 ; 1 Pe 1:16 ; Ap 4:8 ; 6:10).

A Justiça de Deus - A idéia fundamental de Justiça é a de estrito apego à lei. Geralmente se faz distinção entre a justiça absoluta de Deus e a relativa. Aquela é a retidão da natureza divina , em virtude da qual Deus é infinitamente reto em Si mesmo, enquanto que esta é a perfeição de Deus pela qual Ele se mantém contra toda violação da Sua Santidade e mostra , em tudo e por tudo, que Ele é o Santo . ( Ed 9:15; Sl 119:137 ; 145:137; 145:17; Jr 12:1 ; Dn 9:14; Jo 17:25 ; 2 Tm 4:8 ; 1 Jo 2:29 ; 3:7 ; Ap 16:5 ; Dt 4:8 ; Is 3:10,11; Rm 2:6; 1 Pe 1:17 ; Dt 7:9,12,13 ; 2 Cr 6:15 ; Sl 58:11 ; Mq 7:20 ; Mt 25;21,34 ; Rm 2:7 ; Hb 11:26 ; Lc 17:10 ; 1 Co 4:7; Rm 1:32 ; 2:9; 12:19 ; 2 Ts 1:8 ; Lc 17:10,1 ; 1 Co 4:7 ; Jó 41:11).

5. Atributos de Soberania

 A soberania de Deus recebe forte ênfase na Escritura. Ele é apresentado como o Criador , e Sua vontade como a causa de todas as coisas . Em virtude de sua obra criadora, o céu, a terra e tudo o que eles contêm lhe pertencem. Ele está revestido de autoridade absoluta sobre as hostes celestiais e sobre os moradores da terra. As provas bíblicas da soberania de Deus são abundantes mas aqui nos limitaremos a referir-nos a algumas das passagens mais significativas. ( Gn 14:19 ; Êx 18:11 ; Dt 10:14,17 ; 1 Cr 29:11 ,12 ; 2 Cr 20:6 ; Ne 9:6 ; Sl 22:28 ; 47: 2,3,7,8 ; Sl 50:10- 12 ; 95:3-5 ; 115 :3 ; 135 : 5,6 ; 145:11 -13 ; Jr 27:5 ; Lc 1:53 ; At 17:24-26; Ap 19:6 ).

 

Fonte: Manual de Teologia - Autor: Alexandre Z. Bacich

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